Transporte de contentores secos: desafios e soluções a equacionar

O transporte de contentores secos constitui, inegavelmente, um elemento estruturante das cadeias de abastecimento globais. Aliás, estes contentores padronizados asseguram a esmagadora maioria da carga não perecível transportada por via marítima, ferroviária e rodoviária. Permitem, assim, uma movimentação eficiente, segura e económica de mercadorias de natureza muito diversa — dos componentes industriais aos produtos eletrónicos, passando pelos bens de consumo embalados.

A sua robustez estrutural, aliada à compatibilidade com as infraestruturas logísticas intermodais, confere ao transporte de contentores secos uma posição de destaque na gestão das supply chains. No entanto, a sua utilização não se encontra isenta de riscos operacionais e de vulnerabilidades que importa identificar, compreender e mitigar.

Primeiramente, o que são “contentores secos”?

Internacionalmente designados por “dry containers”, os contentores secos são estruturas metálicas estanques, concebidas para o transporte de carga não perecível. Ou seja, de produtos que não requerem um meticuloso controlo de temperatura, humidade ou ventilação.

O transporte de contentores secos encerra um conjunto amplo de vantagens, a saber:

  • Elevada versatilidade operacional, permitindo o acondicionamento de diversos tipos de carga;
  • Compatibilidade intermodal e multimodal, assegurando a fluidez da transferência entre os modos marítimo, ferroviário e rodoviário. Não exige, por isso, o processo de reembalamento;
  • Resistência estrutural elevada, com proteção contra as intempéries, os impactos físicos e a exposição salina;
  • Normalização internacional, de acordo com as especificações ISO, facilitando assim o empilhamento, a armazenagem e o manuseamento portuário;
  • Redução de custos logísticos, devido ao incremento da eficiência aquando do carregamento, do descarregamento e do transporte de mercadorias em grandes volumes.

Estes equipamentos representam, assim, uma solução logisticamente racionalizada e altamente escalável para os fluxos de exportação e importação de carga seca.

Quais as principais utilizações do transporte de contentores secos?

Esta solução de transporte de contentores é utilizada na maioria das operações logísticas internacionais que envolvem a expedição de mercadorias não perecíveis. A sua aplicabilidade estende-se a diversos setores económicos, revelando-se particularmente importante em contextos de elevada rotatividade de carga e exigência de eficiência operacional.

Entre os principais domínios de utilização, podemos, então, sublinhar:

  • Indústria transformadora — envio de componentes, peças técnicas ou matérias-primas secas;
  • Distribuição de bens de consumo — nomeadamente, vestuário, brinquedos, papel, utensílios domésticos ou equipamentos eletrónicos;
  • Setor da construção — sobretudo para o transporte de materiais de obra, mobiliário técnico, ferramentas e artigos estruturais;
  • Agroindústria — quando se trata de produtos secos ou estabilizados, como cereais, rações, sementes e grãos, por exemplo.

Importa, ainda, referir que este tipo de transporte de contentores não se adequa às necessidades particulares dos bens perecíveis ou sensíveis à temperatura. É o caso dos alimentos refrigerados ou congelados, dos produtos farmacêuticos ou de determinadas substâncias químicas (nesses casos, recomenda-se a utilização de contentores frigoríficos).

H3: Características técnicas e tipologias mais utilizadas

No âmbito do transporte de contentores secos, as dimensões padronizadas de 20 pés (TEU) e 40 pés (FEU) são, decerto, as mais comuns. Estas unidades, estabelecidas conforme as normas ISO, permitem uma gestão logística altamente eficiente, facilitando o planeamento da capacidade de navios, terminais e plataformas intermodais.

Adicionalmente, devemos destacar a variante high cube — disponível, sobretudo, no formato de 40 pés. Oferecendo uma maior altura útil (cerca de 30 cm adicionais), demonstra-se particularmente vantajosa para cargas volumosas com baixa densidade ou para mercadorias que requerem empilhamento vertical interno.

Ademais, existem tipologias técnicas específicas que importa conhecer, viabilizando uma resposta mais direcionada a diferentes requisitos e necessidades operacionais. Tome nota:

  • Flat racks — contentores sem paredes laterais nem cobertura superior, ideais, portanto, para o transporte de maquinaria pesada, bobinas metálicas ou cargas com dimensões fora de padrão;
  • Open tops — sem teto rígido, permitem o carregamento vertical de materiais de grandes dimensões, caso dos tubos industriais ou da madeira serrada, por exemplo;
  • Double-door e open-side — com aberturas alargadas em ambas as extremidades, ou nas laterais, viabilizam a otimização do carregamento mecanizado. Além disso, facilitam o acesso em armazéns com restrições de espaço.

Independentemente da tipologia, o transporte de contentores secos apresenta características técnicas transversais, a saber:

  • Pisos em madeira marítima tratada, com elevada resistência à humidade;
  • Sistemas de ventilação passiva, essenciais para minimizar os efeitos da condensação;
  • Fechos mecânicos reforçados;
  • Compatibilidade com empilhamento seguro, tanto em ambiente portuário como a bordo de navios porta-contentores.

Desafios logísticos e operacionais associados ao transporte em contentores secos

A padronização e a escalabilidade que caracterizam o transporte de contentores secos conferem-lhe um papel central no comércio internacional. Constituem, inegavelmente, peças-chave na arquitetura das cadeias de abastecimento globais, em particular nos fluxos marítimos de longa distância e nos corredores logísticos de alto volume.

Pois bem, apesar das suas vantagens evidentes, o transporte de contentores secos apresenta múltiplos riscos, que exigem uma abordagem preventiva e tecnicamente rigorosa:

Condições ambientais e deterioração da carga

As oscilações térmicas e a variação da humidade relativa ao longo do percurso logístico podem provocar condensação no interior dos contentores secos. Esta acumulação de humidade contribui, certamente, para a corrosão de materiais metálicos, o desenvolvimento de bolores e a degradação de embalagens e rótulos.

Embora estes contentores integrem sistemas de ventilação passiva, esta solução pode revelar-se insuficiente. Assim, pode demonstrar-se essencial adotar algumas medidas complementares para preservar as mercadorias — como a utilização de barreiras de humidade, o recurso a dessecantes ou a utilização de embalagens seladas.

Integridade estrutural e falhas mecânicas

No que concerne ao transporte de contentores secos, a robustez da estrutura metálica exterior assume, decerto, um papel crítico. Com efeito, a exposição prolongada a ambientes agressivos — caso das atmosferas salinas, amplitudes térmicas acentuadas ou cargas mal distribuídas — pode originar fissuras, deformações e ruturas, comprometendo a estanquidade do contentor e expondo a mercadoria a potenciais danos.

Nesse sentido, a realização de inspeções periódicas é fulcral, reduzindo o risco de falhas mecânicas, muitas vezes apenas detetadas em fases avançadas do trajeto logístico.

Riscos de sobrecarga e distribuição inadequada do peso

No transporte de contentores secos, é essencial assegurar uma distribuição equilibrada da carga e respeitar os limites máximos de peso (payload). Afinal, a sobrecarga ou a concentração excessiva de massa em zonas localizadas compromete a estabilidade e a segurança do contentor. Além disso, pode originar penalizações por incumprimento das normas internacionais de segurança.

Contaminações cruzadas e infestações

A presença de resíduos orgânicos, poeiras industriais ou odores persistentes no interior dos contentores pode comprometer a qualidade da carga subsequente, sobretudo em produtos alimentares, embalagens ou têxteis.

Similarmente, a infestação por pragas — como insetos, roedores ou fungos — constitui um risco relevante no transporte de contentores. A não conformidade com os requisitos fitossanitários do país de destino pode, de facto, justificar a recusa da mercadoria ou a sua retenção.

Ameaças de segurança

Em rotas ou terminais de maior risco, os contentores secos estão particularmente expostos a intrusões, furtos e atos de vandalismo. A fragilidade de alguns sistemas de fecho, conjugada com a previsibilidade dos itinerários e pontos de paragem, potencia significativamente este tipo de ocorrência. A adoção de selos de alta segurança e dispositivos de rastreamento é, por isso, imprescindível.

Estratégias e boas práticas para mitigar riscos no transporte de carga seca

Pois bem, a multiplicidade e complexidade dos riscos subjacentes ao transporte de contentores secos exigem uma abordagem preventiva e integrada entre todos os intervenientes da supply chain. Entre as indicações estratégicas a priorizar, neste cenário, destacamos:

  • Avaliação rigorosa do contentor antes da carga, verificando, assim, as suas condições estruturais e a conformidade com as regulamentações técnicas aplicáveis;
  • Acondicionamento técnico da mercadoria, seguindo soluções adaptadas às especificidades de cada produto (a vulnerabilidade à humidade ou à vibração, por exemplo);
  • Distribuição homogénea do peso e verificação do payload, mitigando riscos de instabilidade, deformação estrutural e incumprimento dos limites legais;
  • Planeamento documental e aduaneiro exaustivo, com atenção redobrada aos códigos HS, à emissão de certificados de origem e à elaboração da packing list;
  • Rotulagem precisa e em conformidade com os requisitos internacionais;
  • Robustecimento da segurança do transporte de contentores, recorrendo a selos invioláveis ou a sistemas de rastreamento.

Num quadro comercial altamente exigente — e pautado pela crescente vulnerabilidade das cadeias de abastecimento —, contar com o suporte técnico de operadores logísticos experientes pode, decerto, revelar-se decisivo.

Assim, se precisa de apoio para a preparação, a gestão e a blindagem do processo de transporte de contentores secos da sua organização, conte com a equipa Rangel. Dispomos de um conjunto alargado de soluções logísticas de excelência, totalmente adaptáveis ao perfil do seu negócio e às exigências da supply chain global.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SeaRates. “Dry Container Shipping: 16 Challenges & Solutions”. Acedido a 4 de abril de 2025.
https://www.searates.com/blog/post/16-dry-container-challenges-when-shipping
Shiprocket. “Dry Container Shipping: Benefits and Selection Tips”. Acedido a 4 de abril de 2025.
https://www.shiprocket.in/blog/dry-container-shipping/
Global Trade. “Container Shipping: Challenges, Chances, and the Global GDP Trend”. Acedido a 4 de abril de 2025.
https://www.globaltrademag.com/container-shipping-challenges-chances-and-the-global-gdp-trend/
Klinge. “Dry Container vs. Reefer — What’s the Difference?”. Acedido a 4 de abril de 2025.
https://klingecorp.com/blog/dry-containers-vs-reefers/