PRR e Logística: oportunidade para transformação integrada das cadeias de abastecimento

PRR e Logística: Oportunidade para Transformação Integrada das Cadeias de Abastecimento

Em julho passado, foi apresentado o “Convite à Manifestação de Interesse para Desenvolvimento de projetos no âmbito das Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial”. Mais conhecido como as Agendas Mobilizadoras do PRR, porque inseridas no âmbito daquele Plano de Recuperação e Resiliência.

Aprovação de projetos e financiamento público

De uma forma resumida, são convidados consórcios de empresas e entidades à apresentação de propostas de projetos que, se aprovados, receberão financiamento público na forma de incentivo ao investimento. O âmbito dos projetos gravita nas transições ecológica e digital, no crescimento inteligente, sustentável e inclusivo e na resiliência económica.

A obrigatoriedade de candidatura na forma de consórcios e os montantes mínimos de investimento de 20 a 50 milhões de euros, remetem para “iniciativas coletivas realizadas em cooperação por várias entidades e empresas, com capacidade para transformar estruturalmente o tecido produtivo português”.

Aguardados como relevantes incentivos para fomento à economia portuguesa, as propostas a apresentar devem enquadrar-se nas áreas temáticas elegíveis, onde se incluem as tecnologias de informação e os transportes e logística.

Papel da Logística no funcionamento dos mercados

Ora, a conjunção de condições e áreas temáticas constitui uma relevante oportunidade e responsabilidade para todas as empresas e entidades da logística e dos transportes.

Uma responsabilidade ainda mais presente se tivermos em consideração o papel crítico da logística para o normal funcionamento dos mercados. Os exemplos recentes de ruturas e atrasos no abastecimento de contentores e equipamentos eletrónicos, demonstram o impacto nefasto no comprometimento da produção e distribuição de componentes críticos, resultando na paralisação de linhas de produção e mesmo na não satisfação de necessidades de compra dos consumidores.

Estudo APLOG e KPMG- “A Logística em Portugal”

Também apresentado recentemente – em abril passado – pela APLOG (Associação Portuguesa de Logística) e KPMG, o estudo “A Logística em Portugal: Inovação, Tendências e Desafios do Futuro” contabiliza o setor com um crescimento médio anual de 3,7%, entre 2014 e 2018, e um contributo de 5,7% para o Valor Acrescentado Bruto da economia nacional.

No capítulo “Desafios para os próximos anos”, são incluídos os desafios: do Demand Planning, como a capacidade de prever corretamente a procura e otimizar os fluxos logísticos; a Descarbonização e mobilidade autónoma, como otimização da tecnologia e eficiência dos veículos ao nível do consumo; a Visibilidade na Supply Chain, envolvendo todos os agentes da cadeia de abastecimento; a Decision Analytics, com o objetivo de aumentar a capacidade de decisão na cadeia de abastecimento; e – last but not least – o capital humano, com um novo contexto de operação mais automatizado e digital, onde a coexistência do humano com o digital e o desenvolvimento de novas funções e competências são determinantes. O novo contexto é melhor ilustrado no desafio da Everything as-a-Service, em que a competição passa para o paradigma das plataformas em ecossistemas em que o sucesso depende do nível de desempenho coletivo e não individual de cada empresa.

As respostas a estes desafios também são propostas e incluem: a aplicação de automatização e inteligência artificial aos- novos modelos de planeamento, para estimar o impacto de eventos futuros na procura; pela progressiva utilização de veículos com fontes de energia não carbónicas; utilização de plataformas digitais para integrar a informação dos vários agentes da cadeia de abastecimento; o redesenho do modelo de gestão de talento, “segundo uma perspetiva mais criativa, que olha para além das funções tradicionais e considera outros modelos e fontes de outras indústrias com maior; maturidade digital”; a colaboração entre as funções da cadeia de valor, internas e externas que acomode novos modelos de relação laboral; a instituição de novas arquiteturas de cadeia de abastecimento, com um universo de parceiros alargados que utilizando ferramentas digitais consigam agir coletivamente, “com mecanismos de contratualização fluídos, com objetivos de negócios e métricas alinhados de forma a garantir coerência e coesão operacional no cumprimento das expectativas de cada um dos segmentos de clientes e na reputação das marcas”.

PRR e Logística: principais desafios

A semelhança de âmbito entre as agendas do PRR e os desafios identificados na logística – ações coletivas com base em ecossistemas (“consórcios”) de competitividade e baseadas, sobretudo, no capital humano e na digitalização – constituem o mote para quem está a trabalhar na apresentação de propostas. É um mote relevante para a economia nacional, e uma oportunidade relevante para as empresas de logística em Portugal. Relevante, não só porque fomenta a transformação das empresas – tal como recomendado no estudo da APLOG e KPMG – mas, sobretudo, porque o desiderato de constituição de consórcios obriga à adaptação de atributos de valor e à formação dos tais ecossistemas de competitividade.

A logística não une apenas origens e destinos com cargas físicas. A logística une empresas e entidades da cadeia de abastecimento com a informação relevante que fornece (partilha) com todas. Esta união constituí atributo de valor na competitividade de uma economia onde os consumidores querem encomendar agora para receber de imediato – algo que só uma ação coletiva, integrada e ágil da cadeia de abastecimento parece conseguir providenciar.

O posicionamento estratégico da função logística, nas cadeias de valor, é um privilégio e uma relevante oportunidade para a participação em agendas mobilizadoras – em indústrias – como as que se procuram incentivar no PRR. A tecnologia é uma nova cola que permite o redesenho das arquiteturas e a maior partilha de informação e decisões na cadeia de abastecimento. Como uma outra consultora – Mckinsey – recomenda a tecnologia une as dimensões da estratégia, estrutura, processos e pessoas; algo que o mundo da gestão debate e persegue como ideal de gestão há décadas. Talvez seja também nas tecnologias de informação que as empresas e entidades da logística se devam focalizar para os desafios apresentados.

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