Logística da cadeia de frio: desafios na indústria farmacêutica

Logística da cadeia de frio: desafios na indústria farmacêutica

Entregar mercadorias de um ponto do planeta para o outro canto do mundo, em segurança, de forma célere e com a maior eficiência em termos de custos é o propósito das empresas que operam na cadeia de abastecimento. Mas cumprir este objetivo inclui, por vezes, um desafio acrescido. É o que acontece, por exemplo, com a logística da cadeia de frio, quando estão em causa produtos mais sensíveis que exigem o controlo da temperatura ao longo de todas as etapas do processo logístico – como medicamentos, produtos alimentares ou produtos perecíveis.

De acordo com o estudo “Cold Chain Market & Trends”, o valor global do mercado da cadeia de frio atingirá os 628 mil milhões de dólares em 2028 1. O que representa um crescimento anual de 14,8%, no período entre 2021 e 2028. As estimativas comprovam, assim, a relevância crescente deste segmento na supply chain global.

Neste artigo, vamos dar a conhecer, em particular, as especificidades dos processos da cadeia de frio na indústria farmacêutica, bem como os desafios que os operadores enfrentam para assegurar o correto armazenamento e transporte de medicamentos em todo o mundo.

A importância da logística da cadeia de frio no setor farmacêutico

Olhando para o passado recente, a distribuição mundial das vacinas para o combate à Covid-19 é o exemplo mais emblemático que espelha a importância da cadeia de frio no acesso aos fármacos e, em especial, aos novos medicamentos. Recorde-se que algumas destas vacinas exigiam inicialmente serem armazenadas a uma temperatura de -70 ºC. A complexidade e a urgência da operação colocaram à prova a capacidade de inovação e de coordenação entre os diversos operadores logísticos para encontrar soluções de armazenamento, acondicionamento e transporte que permitissem fazer o controlo da temperatura nos níveis desejados e garantir a distribuição das vacinas a todo o mundo.

Segundo a Healthcare Distribution Management Association, cerca de 10% dos medicamentos são sensíveis à temperatura 2. É o caso de alguns injetáveis, como a insulina, mas também de artigos como vitaminas, suplementos, produtos biológicos, psicotrópicos, produtos de uso veterinário, entre outros.

Nestes casos, pequenas oscilações de temperatura, humidade ou exposição à luz podem interferir nas propriedades dos fármacos e reduzir ou eliminar a sua eficácia, inutilizando-os e causando perdas avultadas. A acrescentar mais um nível de complexidade ao processo, cada produto farmacêutico tem requisitos de temperatura específicos para poderem ser armazenados e transportados.

Em termos de ambientes de temperatura controlada, os produtos podem ser inseridos nas seguintes categorias:

  • Temperatura ambiente controlada: Para produtos que necessitam de ser conservados a temperaturas entre os 15ºC e os 25ºC.
  • Baixa temperatura: Compreende os medicamentos que têm de ser conservados numa temperatura entre os 2 ºC e os 8 ºC.
  • Congelação: Alguns produtos farmacêuticos, pelas suas características, têm de ser mantidos a temperaturas abaixo de 0ºC. Os congeladores farmacêuticos comuns permitem a conservação a temperaturas entre os -25º e os -15ºC.
  • Ultracongelação: Certos medicamentos e produtos biológicos mais sensíveis têm de ser conservados a temperaturas ultrabaixas (inferiores a -60ºC) para impedir a deterioração das suas propriedades, exigindo soluções de embalamento, armazenamento e transporte especializadas.

Um mercado em crescimento

As estimativas apontam para que a percentagem deste tipo de medicamentos continue a crescer nos próximos anos, à medida que os medicamentos biológicos (desenvolvidos a partir de materiais biológicos, muito sensíveis à temperatura) vão ganhando uma maior projeção.

Segundo o estudo “Global Healthcare Cold Chain Logistics Market Report & Forecast 2021-2026”, o mercado global da logística da cadeia de frio no setor da saúde deverá continuar a crescer a um ritmo anual de 7% 3.

Mas operar neste mercado que vale 73 mil milhões de dólares é desafiante e está ao alcance de um número relativamente reduzido de empresas 4. Recorde-se que a sensibilidade destes produtos e a elevada regulação do setor farmacêutico exigem o cumprimento das normas definidas pelo regulamento das boas práticas de distribuição de medicamentos para uso humano. Além disso, implica elevados investimentos em meios dedicados (embalagens próprias, armazéns frigoríficos e transportes climatizados, entre outros).

Os desafios da cadeia de frio da indústria farmacêutica

Garantir a estabilidade da temperatura dos medicamentos e produtos farmacêuticos desde o momento da sua produção até chegarem às mãos dos pacientes é a principal preocupação dos operadores logísticos deste segmento. Em causa está não só a integridade e segurança dos medicamentos, como também os custos avultados com o desperdício de produtos, devido a falhas no controlo de temperatura da cadeia de frio.

Aliás, algumas estimativas apontam para que as oscilações de temperatura na cadeia de abastecimento do setor da saúde causem custos totais na ordem dos milhares de milhões de dólares por ano. Para minimizar estas perdas, é necessário olhar para as etapas críticas da logística da cadeia de frio e identificar os desafios em cada uma.

Embalamento

Este é o primeiro escudo protetor de um produto farmacêutico sensível às temperaturas. Assim, a seleção da solução de embalamento mais adequada é crucial para assegurar que os produtos se mantêm sempre à temperatura correta.

Esta escolha depende de fatores como o transporte utilizado e o tempo de trânsito destes bens. Existem diversas tipologias de embalagens e contentores, adequados a diferentes requisitos de temperatura: desde sacos de refrigeração ou congelação, passando pelas caixas térmicas, até às mantas térmicas – munidas de sensores que permitem a geo-localização e o controlo da temperatura. Entre os materiais mais usados nas embalagens térmicas estão a espuma de poliestireno expandido (EPS) e a espuma rígida de poliuretano.

No caso dos produtos que exigem a conservação em níveis de frio mais exigentes, são utilizados materiais como gelo seco, que asseguram uma temperatura constante de -80 ºC.

O desafio da cadeia de frio da indústria farmacêutica no que diz respeito a esta área consiste na criação de soluções de embalamento que permitam garantir a conservação dos produtos a temperaturas que são cada vez mais exigentes. Ao mesmo tempo, estas soluções terão de incorporar tecnologias que permitam aos operadores monitorizar a temperatura ao longo de toda a sua jornada. Tudo isto sem esquecer a preocupação com o tema da sustentabilidade: as embalagens deverão ser, cada vez mais, reutilizáveis e eco-friendly.

Armazenamento

As características específicas deste tipo de produtos levam à necessidade de adoção de soluções de armazenamento próprias, dedicadas e avançadas que garantam a conservação dos medicamentos à temperatura adequada, bem como o controlo dos níveis de luminosidade, humidade e ventilação.

Existem múltiplos aspetos que têm de ser considerados nesta etapa: desde os equipamentos utilizados para movimentar e manusear estes produtos, passando pela forma como os medicamentos são armazenados.

Tendo em conta a sensibilidade dos produtos envolvidos, um dos desafios reside na capacitação das equipas. Embora muitos processos de armazenamento sejam automatizados, ter colaboradores qualificados que estejam bem preparados e formados é um fator importante para assegurar que o armazenamento de medicamentos é feito seguindo as regras do fabricante e que o seu acondicionamento é realizado de forma segura para manter a sua integridade. Desta forma, evitam-se perdas e desperdícios de produto.

Transporte

O facto de as cadeias de abastecimento serem cada vez mais longas e de existirem medicamentos mais sofisticados e sensíveis – que exigem métodos de conservação mais complexos – são alguns dos desafios associados ao transporte deste tipo de produtos.

Seja por via marítima, terrestre ou aérea, o transporte de medicamentos é uma etapa crítica da cadeia de frio. Afinal, simples variáveis como o modo de condução ou as condições climatéricas podem influenciar as propriedades dos medicamentos e comprometer a sua eficácia. É, por isso, fundamental assegurar que os medicamentos são acondicionados em contentores apropriados para o transporte, que os veículos têm controlo de temperatura e existam mecanismos – como data loggers – que permitam monitorizar a temperatura (e outros parâmetros) ao longo do transporte.

Mas não só. Segundo a SensiTech, é nesta fase que ocorrem 75% dos roubos de produtos farmacêuticos 5. Mais uma razão pela qual é importante implementar soluções que permitam fazer o rastreamento dos produtos.

Para mais detalhes sobre as regras de transporte de medicamentos, consulte o Regulamento de Boas Práticas de Distribuição por Grosso de Medicamentos de Uso Humano 6.

Regulação

A complexidade da cadeia de frio da indústria farmacêutica exige da parte dos operadores logísticos que trabalham nesta área o cumprimento rigoroso e escrupuloso de todas as normas e boas práticas de armazenamento e distribuição de medicamentos. Uma inconformidade pode dar lugar à aplicação de coimas. Nesse sentido, as empresas que operem neste setor têm de estar preparadas e capacitadas para lidar com um ambiente regulatório e normativo que é cada vez mais exigente e rigoroso.

Tecnologia

Cada vez mais, a tecnologia está presente nas diversas etapas da cadeia de frio da indústria da saúde. Por isso, a adoção destas ferramentas é um ponto crítico para as empresas farmacêuticas e todos os agentes que operam neste setor.

A tecnologia (como a Internet of Things ou a Inteligência Artificial) permite fazer um controlo cada vez mais eficaz da temperatura, por exemplo. Mas contribui ainda para acelerar processos e fazer uma melhor gestão da cadeia de frio. Isto é, através de sensores, é possível monitorizar em tempo real a temperatura dos produtos farmacêuticos, bem como os níveis de humidade e de vibração durante o transporte e armazenamento. Além disso, possibilita detetar se a carga foi manuseada de forma incorreta, em algum momento.

Se procura um parceiro logístico capacitado para enfrentar estes desafios e que lhe dê garantia e confiança na logística e no transporte de produtos sensíveis à temperatura, contacte-nos. Temos um know how profundo na indústria farmacêutica, o que nos leva a dispor das infraestruturas e dos equipamentos mais adequados para assegurar o controlo da temperatura dos seus produtos em todas as etapas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1 Grand View Research. “Cold Chain market size worth 628 billion by 2028”. Acedido a 27 de Janeiro de 2022.
https://www.grandviewresearch.com/press-release/global-cold-chain-market
2 Contract Pharma, “The evolution of cold supply chains in the wake of Covid-19”. Acedido a 23 de janeiro de 2022.
https://www.contractpharma.com/contents/view_experts-opinion/2021-10-21/the-evolution-of-cold-supply-chains-in-the-wake-of-covid-19/
3 Imarc. “Global Healthcare Cold Chain Logistics Market Report & Forecast 2021-2026”,
https://www.imarcgroup.com/healthcare-cold-chain-logistics-market
4 VRR, “The role of cold chain logistics in the pharmaceutical industry”. Acedido a 27 de janeiro de 2022.
https://blog.vrr.aero/the-role-of-cold-chain-logistics-in-the-pharmaceutical-industry/
5 Broekman Logistics, “5 challenges of the pharmaceutical cold chain”. Acedido a 27 de janeiro de 2022.
https://www.broekmanlogistics.com/en/insights/blog/5-Challenges-Of-The-Pharmaceutical-Cold-Chain
6 Diário da República. Alteração do Regulamento das Boas Práticas de Distribuição Por Grosso de Medicamentos de Uso Humano. Acedido a 27 de janeiro de 2022. https://files.dre.pt/2s/2021/09/178000000/0006700083.pdf
Outras Fontes:
Solistica, “Cold chain: A challenge for the supply chain”. Acedido a 27 de janeiro de 2022.
https://blog.solistica.com/en/cold-chain-a-challenge-for-the-supply-chain
Revista Cargo, “Congresso APLOG: Nuno Ramalho (Rangel) apresentou caso prático na área do transporte de medicamentos”. Acedido a 23 de janeiro de 2022.
https://revistacargo.pt/congresso-aplog-nuno-ramalho-rangel-apresentou-caso-pratico-na-area-do-transporte-de-medicamentos/


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