Qual é o impacto das flutuações cambiais no comércio internacional?

Entre 2010 e 2022, o Malawi oscilou entre regimes de câmbio fixo e flutuante, enfrentando sucessivas flutuações cambiais. Numa dessas fases, a moeda local sofreu uma significativa desvalorização de 10%. De acordo com a teoria económica tradicional, este valor deveria impulsionar, de modo automático, o crescimento das exportações. A realidade, porém, demonstrou-se bem mais complexa.

Segundo um estudo do Banco Mundial, publicado em 2023, esse ajustamento cambial resultou num incremento de apenas 7,7% nas vendas ao exterior do país, ao fim de um ano. Em contrapartida, uma valorização da mesma magnitude provocou uma queda acentuada de 23,5%. Estes dados ilustram um fenómeno de resposta assimétrica às variações cambiais — especialmente visível em economias expostas às dinâmicas do comércio externo —, o que acarreta repercussões estruturais para os operadores logísticos e para a arquitetura das cadeias de abastecimento.

Torna-se, então, crucial compreender como as flutuações cambiais influenciam a logística internacional, a competitividade das empresas e a resiliência das cadeias de abastecimento globais.

Primeiramente, o que são flutuações cambiais e como se relacionam com a política monetária?

As flutuações cambiais referem-se às variações no valor de uma moeda, ao longo do tempo, relativamente a outras divisas. Estas oscilações resultam da interação entre a oferta e a procura nos mercados cambiais, sendo originadas, portanto, por variáveis macroeconómicas, financeiras e geopolíticas.

Quer envolvam apreciação ou depreciação, estes movimentos influenciam diretamente os preços relativos dos bens transacionáveis. Afetam, assim, a competitividade externa, a estrutura de custos das importações e o equilíbrio das balanças comerciais.

Devemos, no entanto, sublinhar que estas oscilações não se esgotam em movimentos especulativos. As flutuações cambiais refletem desequilíbrios reais e expectativas quanto ao desempenho económico, à condução da política fiscal e à orientação da política monetária de uma determinada economia.

Mecanismos de formação das taxas de câmbio

As taxas de câmbio formam-se no mercado de divisas (Foreign Exchange Market – Forex), onde agentes económicos transacionam moedas com base em expectativas relacionadas com inflação, taxas de juro, crescimento económico ou risco político. Neste contexto, coexistem dois regimes: as taxas de câmbio fixas — geralmente ancoradas a uma moeda forte — e as flutuantes — determinadas pelas forças do mercado.

A política monetária exerce, sem dúvida, um papel central nesta equação. Afinal, taxas de juro mais elevadas tendem a atrair investimento estrangeiro, valorizando a moeda nacional. Pelo contrário, políticas expansionistas, com juros baixos, podem induzir a sua depreciação. Em alguns casos, os bancos centrais intervêm diretamente no mercado cambial, comprando ou vendendo divisas para estabilizar a taxa de câmbio.

Assim, as flutuações cambiais não são apenas o reflexo de forças de mercado. São também o resultado de decisões estratégicas de política económica. E essas decisões têm implicações, afetando diretamente a competitividade externa de um país, o desempenho das suas exportações e a estabilidade das suas operações logísticas internacionais.

Como é que as flutuações cambiais afetam as trocas comerciais globais?

As taxas de câmbio alteram os preços relativos dos bens e serviços transacionáveis entre países. Por isso, é crucial compreender os efeitos de uma valorização ou desvalorização da moeda.

O que acontece quando há uma desvalorização?

Uma desvalorização da moeda reduz, em termos nominais, o preço dos produtos exportados, aumentando a sua atratividade nos mercados externos. Simultaneamente, encarece as importações, podendo favorecer a indústria nacional, por meio da redução da concorrência externa.

No entanto, este efeito de “ganho competitivo” só se materializa em setores com capacidade produtiva instalada, agilidade logística e presença consolidada nos mercados de destino. Caso contrário, os ganhos de curto prazo tendem a dissipar-se entre ineficiências operacionais e pressões inflacionistas, sobretudo quando os inputs da produção são importados e os custos logísticos se mantêm elevados.

E quais são os impactos de uma valorização da moeda?

Em contrapartida, no âmbito das flutuações cambiais, a valorização cambial tende a penalizar as exportações. Tal deve-se ao encarecimento dos produtos em moeda estrangeira, o que comprime a margem de competitividade internacional de uma determinada economia.

Este efeito é particularmente penalizador para setores intensivos em mão de obra e com baixa diferenciação, cuja vantagem competitiva assenta, acima de tudo, no preço. Além disso, ao reduzir o custo relativo das importações, a valorização pode intensificar a concorrência externa sobre a indústria nacional, comprometendo a sua sustentabilidade.

Não obstante, existem cenários em que aapreciação cambial pode gerar efeitos benéficos:

  • Redução dos custos de importação: a valorização da moeda nacional reduz o custo de aquisição de bens de capital e matérias-primas estratégicas, fator particularmente relevante em economias dependentes de tecnologia e insumos externos;
  • Alívio das pressões inflacionistas: ao reduzir o preço dos bens importados, a valorização pode contribuir para a estabilização dos índices de preços ao consumidor;
  • Estímulo ao investimento produtivo: menores custos de importação de equipamentos e tecnologia podem fomentar a modernização da base produtiva e o reforço da capacidade industrial instalada.

Todavia, a concretização destes benefícios depende de pré-condições estruturais, nomeadamente:

  • Um elevado grau de sofisticação empresarial, capaz de converter ganhos cambiais em ganhos reais de eficiência;
  • Cadeias logísticas internas eficientes e resilientes, que garantam fluidez operacional e permitam capitalizar as vantagens da valorização cambial.

Qual é, então, o efeito das flutuações cambiais na logística internacional?

O impacto das flutuações cambiais sobre os custos logísticos, sobretudo em operações transfronteiriças que envolvem múltiplas divisas, é incontornável. Uma depreciação da moeda nacional tende, pois, a encarecer os serviços logísticos contratados em moeda estrangeira.

Pode impactar diretamente, ainda, o frete internacional, os seguros, a armazenagem, o manuseamento e as despesas alfandegárias cotadas em moeda estrangeira.

Do ponto de vista contratual, as variações cambiais também afetam as margens dos operadores logísticos, especialmente quando os contratos não contemplam cláusulas de indexação cambial. Em operações de longo prazo, por exemplo, uma valorização do dólar ou do euro, com relação à moeda local, pode transformar contratos aparentemente rentáveis em fontes de erosão financeira.

Adicionalmente, em cadeias logísticas dependentes de componentes importados, uma depreciação cambial pode amplificar os custos totais do produto final. Por conseguinte, este efeito repercute-se nos preços de exportação, na competitividade dos itens a transacionar e na rentabilidade agregada das operações. Por esse motivo, as flutuações cambiais constituem uma variável crítica na estrutura de custos da logística internacional.

Gestão cambial nas cadeias de abastecimento internacionais

Para mitigar o impacto das flutuações cambiais nas operações logísticas, as empresas recorrem cada vez mais a mecanismos integrados de gestão cambial. Entre as práticas mais relevantes, podemos então frisar:

  • Negociação contratual em moeda forte (como o dólar ou o euro), visando assim preservar a estabilidade dos custos, sobretudo em contratos de médio e longo prazo;
  • Incorporação de cláusulas de reajuste cambial nos contratos com transitários, armadores e operadores de armazenagem, permitindo o ajustamento dos preços com base em variações previamente estipuladas na taxa de câmbio;
  • Cobertura cambial (hedging) no planeamento financeiro, através da contratação de instrumentos como forward contracts ou currency swaps, especialmente quando a exposição cambial afeta parcelas substanciais da operação.

Estas abordagens viabilizam, portanto, um incremento da previsibilidade financeira, da capacidade de orçamentação e da resiliência das operações logísticas internacionais.

Estratégias logísticas em contextos de elevada volatilidade cambial

Em cenários marcados por instabilidade monetária, torna-se imperativo que as empresas reavaliem os alicerces da sua estratégia logística. Nesse sentido, importa equacionar a implementação de decisões estruturais:

  • Reconfiguração da geografia de fornecedores, privilegiando mercados com menor exposição cambial ou maior previsibilidade monetária;
  • Adoção de políticas de nearshoringou friendshoring, deslocando operações para países mais estáveis e geopoliticamente alinhados;
  • Revisão criteriosa das rotas internacionais, priorizando corredores logísticos que minimizem o número de transações em moedas de elevada volatilidade;
  • Flexibilização contratual, com mecanismos de ajustamento tático sempre que as flutuações cambiais ultrapassem limiares predefinidos de risco.

Estas estratégias assumem particular relevância para empresas com margens apertadas ou ciclos logísticos longos. Afinal, nestes casos, a volatilidade cambial pode comprometer significativamente a rentabilidade e a continuidade operacional. Nesse sentido, gerir eficazmente o risco cambial é fulcral para a competitividade logística internacional.

Pois bem, se a sua empresa enfrenta desafios associados às flutuações cambiais, este é o momento de reavaliar a exposição da sua cadeia de abastecimento e de implementar mecanismos robustos de mitigação de risco. Para tal, é imprescindível contar com parceiros logísticos de confiança, com padrões de excelência operacional e capacidade estratégica comprovada.

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Fontes

Wautier Family Office. “How Monetary Policy Decisions Impact Currency Strength and International Trade”.
World Bank Blogs. “How exports react to exchange rate fluctuations, and what it means for low- and middle-income countries”.
Harvard Business Services. “How Exchange Rates Affect Your Business”.
American Institute for Economic Research (AIER). “How Currency Shapes Global Trade: Exchange Rates, Investment, and Stability”.