Holanda: um mercado de oportunidades

Holanda: um mercado de oportunidades 2

A Holanda é um importante parceiro económico de longa data de Portugal, fruto do dinamismo que os dois países têm sabido imprimir ao seu relacionamento económico bilateral ao longo dos anos. A conjuntura internacional continua a posicionar a Holanda como um mercado de oportunidades para a economia portuguesa.

Os setores da indústria e dos serviços, de ambos os países, são os que mais têm contribuído para o incremento das trocas comerciais entre Portugal e Holanda. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2018, o país das tulipas foi o sexto maior cliente de bens e serviços de Portugal, e o quarto maior fornecedor.

Localizada no noroeste da Europa e com cerca de 17 milhões de habitantes, a Holanda tem uma das economias mais consistentes da Zona Euro, apresentando no ano passado um crescimento de 2,5% do PIB. A robustez da economia, a par com a localização geográfica privilegiada e as interligações ao hinterland continental (interior do continente), posiciona a Holanda como uma interessante plataforma logística para o continente europeu.

Ambiente de Negócios

/86
Ranking Global

 

/140
Competividade

36º/190
Facilidade

/180
Transparência

AA
Risco Geral

A
Risco Económico

Ambiente de Negócios – Holanda
Fonte: AICEP Holanda

Dados Macro-Económicos

52883
PIB PER CAPITA (USD)

 

2.5
Crescimento real do PIB (%)

1.6
Taxa de Inflação (%)

2.4
Consumo Privado (VAR. %)

1
Consumo Público (VAR. %)

3.8
Taxa de desemprego (VAR. %)

Dados Macro-Económicos – Holanda
Fonte: The Economist Intelligence Unit (EIU) 2018

É na Holanda que se situa o Porto de Roterdão, o maior porto marítimo do continente europeu, e o aeroporto de Amesterdão-Schiphol, um dos principais aeroportos da Europa, que em conjunto com uma moderna rede de estradas e ferrovias, permitem uma rápida distribuição de mercadorias por toda a Europa em cerca de 24 horas. Só o porto de Roterdão movimenta cerca de 11% da carga marítima transportada na Europa! Para além disso, 24% dos transportes rodoviários de mercadorias e 47% de todos os transportes fluviais que se realizam em toda a Europa também são assegurados pelos holandeses.

Além da robusta rede de infraestruturas, a Holanda é ainda o ponto de ligação da Europa à China, através do comboio de mercadorias, que desde 2016 liga Roterdão a Chengdu (China) em 15 dias como um serviço porta-a-porta.

Oportunidades para as empresas portuguesas na Holanda

A Holanda é conhecida pelas suas túlipas, moinhos e socas de madeira, mas também pelo seu habitual e característico espírito liberal e mercantilista. O setor dos serviços é de crucial importância para a economia holandesa, emprega mais de 80% da população ativa e representa cerca de 70% do PIB, o que revela também a elevada dependência do país face ao comércio externo. O setor agrícola apresenta também um contributo muito importante para o saldo positivo da balança comercial da Holanda, uma vez que exporta cerca de 60% da produção, de forma direta ou através da indústria alimentar.

Os setores da agricultura, indústria química, energia, metalurgia, maquinaria, eletrónica, tecnologia e serviços constituem um importante motor para economia holandesa, no entanto, a indústria de processamento de alimentos, as tecnologias do ambiente, a logística e transportes, os vinhos e o vestuário e calçado são também atividades económicas relevantes na Holanda, e que apresentam boas oportunidades de mercado para as empresas portuguesas.  

Indústria de processamento de alimentos

O processamento de alimentos é um setor com uma influência significativa na economia holandesa e apresenta-se como um dos mais modernos e desenvolvidos da Europa. A consultora internacional KPMG, publicou um estudo onde assegura que a Holanda é o melhor país para se estabelecer unidades de produção desta indústria.

Neste setor, a oportunidade para as empresas portuguesas passa pela exportação de alimentos para processamento. De acordo com o INE, as empresas portuguesas têm vindo a exportar para a Holanda essencialmente frutas (laranjas, pêras, sumos de fruta), polpa de tomate e carne de frango, mas existem ainda muitos produtos alimentares com potencial de exportação para o mercado holandês que não estão a ser devidamente explorados pelas empresas nacionais.

Tecnologias do ambiente

O atual governo holandês liderado por Mark Rutte, propôs-se a alcançar, até 2020, uma quota de 16% de energia proveniente de fontes renováveis no consumo final bruto de energia. Este facto explica o investimento anual na ordem dos 3 mil milhões de euros que o país tem feito para o desenvolvimento e implementação da Energias Renováveis e Eficiência Energética.

Neste caso, a oportunidade para empresas portuguesas está no know-how necessário para o fornecimento de tecnologias e serviços relacionados com a produção de energia eólica, uma vez que, as empresas holandesas que operam neste ramo são, na grande maioria, de pequena dimensão e apresentam experiência, sobretudo, em isolamento e aplicação de energia solar.

Logística, transportes e distribuição

Dentro do setor dos serviços, que já vimos ser crucial para a economia da Holanda, o subsetor da logística e dos transportes é um dos que mais se destaca. Como porta de entrada na Europa, os Países Baixos detêm também uma extensa rede de centros de distribuição, adaptados a cada tipo de indústria, desde a agroalimentar, moda ou tecnologia médica.

Estes hubs logísticos, considerados os maiores e mais desenvolvidos a nível europeu, fazem com que o país seja procurado por grandes multinacionais para estabelecerem os seus centros logísticos na Europa. São exemplos disso empresas como a Coca-Cola, IBM, Huawei e Tommy Hilfiger, que gerem a partir da Holanda a cadeia de abastecimento para o continente europeu.

Neste sentido, a oportunidade para as empresas portuguesas reside no estabelecimento de parcerias estratégicas ao nível do transporte e logística de mercadorias, encarando a Holanda como plataforma de distribuição para o resto do mundo.

Vinhos

O mercado dos vinhos holandês é, provavelmente, uma das oportunidades que menos tem sido explorada pelas empresas portuguesas. Na verdade, a Holanda é o um dos principais destinos das exportações de vinhos de países concorrentes de Portugal, no entanto, no caso português, tem uma expressão muito reduzida (15º cliente dos vinhos nacionais em 2016).

Neste setor, e tendo em conta que a grande distribuição holandesa é essencialmente dominada pelas quatro maiores marcas de retalho no país, as oportunidades de negócio para Portugal podem estar na exploração do segmento que distribui vinhos para o retalho especializado e restauração.

Vestuário e calçado

Portugal é já um fornecedor consolidado de calçado para a Holanda, sobretudo no que respeita a calçado de couro, no entanto, há ainda margem para aumentar o volume de exportações, tendo em conta o crescimento consecutivo das exportações ao longo dos últimos anos.

Relativamente ao vestuário, o mercado holandês nunca foi muito expressivo para as exportações portuguesas, no entanto, nos últimos anos temos assistido a um interesse crescente por peças de roupa produzidas em Portugal.

Neste setor, a oportunidade afigura-se, sobretudo, para as empresas da indústria têxtil e de vestuário nacionais, a quem os mercados internacionais, incluindo a Holanda, reconhecem a qualidade da mão de obra e preços competitivos.

Que oportunidades abre o Brexit no mercado holandês e europeu?

A saída do Reino Unido da União Europeia (UE), prevista para o próximo dia 31 de outubro, terá impactos significativos na economia da Holanda, uma vez que o Reino Unido é o 3º mercado mais importante das exportações de bens holandesas e o 6º maior fornecedor. A Holanda, a par com a Irlanda, a Bélgica e o Chipre estão entre os países que mais serão afetados pelo Brexit, de acordo com o estudo “Brexit: As consequências para as empresas portuguesas”.

O governo holandês assume que o Brexit poderá impactar com força a economia do país, no entanto, alerta também para as oportunidades que se poderão abrir para a Holanda. Os estudos realizados sobre os impactos do divórcio entre Reino Unido e União Europeia sugerem que o primeiro perderá influência no comércio internacional, devido à esperada contração da economia.

Esta perda de competitividade das empresas britânicas nos mercados internacionais, abre margem para que as empresas holandesas as substituam enquanto fornecedoras de bens e serviços. Estados Unidos, Alemanha e França poderão ser mercados interessantes para as empresas da Holanda após o Brexit, uma vez que são alguns dos principais destinos das exportações britânicas.

A incerteza que se gerou nos últimos meses relativamente à forma como o Reino Unido irá deixar a União Europeia, e as dúvidas quanto ao modo como se irão desenrolar as negociações e trocas comerciais entre ambas as partes, têm levado várias empresas sediadas no Reino Unido a deslocar as suas administrações e operações para Holanda. A Agência Europeia de Medicamentos é um desses casos, que em março deste ano anunciou a transferência da sua  sede de Londres para Amesterdão.

De acordo com a Agência de Investimento Estrangeiro na Holanda (NFIA), desde 2016 cerca de 100 empresas que estavam estabelecidas no Reino Unido mudaram ou abriram escritórios na Holanda, sendo que cerca de outras 300 podem vir a seguir as mesmas pisadas. Na base destas decisões está o receio das empresas perderem as regalias de acesso ao Mercado Único Europeu, caso mantivessem as sedes no Reino Unido.

Para Portugal, as oportunidades para a economia holandesa resultantes do Brexit devem ser vistas como favoráveis, uma vez que a Holanda é um importante parceiro comercial. Atualmente, são cerca de 2500 as empresas portuguesas que exportam com regularidade para a Holanda, número que pode vir a aumentar tendo em conta as oportunidades que o mercado holandês apresenta para Portugal.

Referências Bibliográficas:
Mercados: Holanda; Revista Portugal Global, AICEP, Edição 104, Dezembro de 2017
Mercado Holanda; Plataforma Portugal Exporta, AICEP