Friendshoring: o que é e como pode otimizar a gestão de risco na cadeia de abastecimento? 28 de Março, 2025 Rangel Logistics Solutions Logística Num contexto internacional cada vez mais marcado por expressões como “guerra comercial” ou “tensão geopolítica”, o friendshoring assume, sem dúvida, um crescente protagonismo. Esta estratégia caracteriza-se pela realocação de determinados processos de produção para países aliados, com o intuito de, assim, assegurar a estabilidade operacional num cenário global cada vez mais incerto. Neste artigo, exploramos, então, as principais características desta prática, as suas vantagens e os pontos que a distinguem de outras estratégias, como o nearshoring. O que é friendshoring? O termo “friendshoring” surgiu em 2021 (na altura, apelidado de “allyshoring”), na sequência das crises económicas e das tensões geopolíticas causadas pela pandemia e pela invasão da Ucrânia. Trata-se, pois, de uma evolução das estratégias de gestão da cadeia de abastecimento mais comuns, tendo como pressuposto a deslocação das fases de produção e de fornecimento para países com os quais se partilha laços políticos, económicos ou estratégicos. Por conseguinte, esta abordagem emerge para combater a vulnerabilidade e o risco subjacentes a relações comerciais instáveis. Pretende-se, desse modo, evitar potenciais sanções económicas ou conflitos de índole política e geoestratégica. Mas quais são as principais diferenças entre friendshoring e nearshoring? Estas estratégias de gestão da supply chain nasceram, portanto, como alternativas ao offshoring. Esta abordagem tradicional valoriza, então, a redução de custos através da deslocalização para países com mão de obra menos dispendiosa, independentemente da estabilidade política ou da proximidade geográfica. No entanto, são vários os fatores que diferenciam o friendshoring do nearshoring. O primeiro, por exemplo, prioriza a segurança da cadeia de abastecimento, optando por instalar a produção em países politicamente alinhados e confiáveis. O segundo, por sua vez, valoriza sobretudo a proximidade geográfica, com o intento de reduzir os custos logísticos, os tempos de transporte e a coordenação entre equipas. Para melhor entender as diferenças entre estes conceitos, consulte a seguinte tabela: CritérioFriendshoringNearshoringFator principalSegurança e estabilidade geopolíticaEficiência e proximidade geográficaObjetivoGarantir resiliência na cadeia de abastecimento, trabalhando com países aliadosReduzir custos logísticos e tempos de transporte, escolhendo países próximosCritério de seleçãoAlinhamento político e estabilidade económica dos países parceirosDistância geográfica e facilidade logísticaVantagensMenor risco de sofrer sanções comerciais e maior grau de previsibilidade a longo prazoCadeia de abastecimento mais ágil, custos de transporte mais baixos e, por norma, menos barreiras linguísticas e culturaisDesvantagensPossível aumento dos custos de produção, se os países aliados não tiverem custos laborais competitivosPode expor as operações a riscos económicos e geopolíticos, se o país vizinho enfrentar instabilidade Como pode o friendshoring otimizar a gestão de riscos na cadeia de abastecimento? A crescente instabilidade geopolítica, os impactos duradouros da crise pandémica de COVID-19 e as tensões comerciais globais expuseram, inegavelmente, a vulnerabilidade das supply chains globais. Ora, de acordo com um artigo da McKinsey Global Institute, intitulado “Geopolitics and the geometry of global trade: 2025 update”, as relações comerciais estão a sofrer uma reconfiguração baseada em alinhamentos geopolíticos. Os Estados Unidos da América (EUA), por exemplo, têm redirecionado o seu comércio da China para países como o México e o Vietname, enquanto a Europa procura reduzir a sua dependência da Rússia. Esta transformação reflete, assim, a crescente adoção do friendshoring como estratégia para robustecer a segurança das cadeias de abastecimento e garantir maior previsibilidade num cenário global cada vez mais fragmentado. Entre as vantagens do friendshoring, podemos, então, destacar: 1. Redução da dependência de países de alto risco Segundo a McKinsey, as principais economias mundiais obtêm, pelo menos, 25% de um recurso crítico por meio de importações, tornando-se, desse modo, vulneráveis a disrupções. Esta dependência destaca, portanto, o valor da diversificação das cadeias de abastecimento para evitar falhas no fornecimento de matérias-primas essenciais ou as consequências de mudanças abruptas nas políticas económicas. 2. Maior previsibilidade e estabilidade regulatória Contar com fornecedores em países com normas comerciais mais transparentes e previsíveis reduz significativamente o risco de sofrer com alterações em tarifas, proibições de exportação ou restrições aduaneiras, por exemplo. Similarmente, trabalhar com países alinhados, em termos regulamentares, permite que as empresas cumpram padrões internacionais — ambientais e laborais, a título ilustrativo — sem grandes custos adicionais relacionados com auditorias ou ajustes. Isto evita, decerto, impactos negativos nas margens de lucro, protege as organizações de mudanças súbitas na regulamentação e assegura um planeamento estratégico mais eficiente e responsável. 3. Cadeias de abastecimento globais mais resilientes e diversificadas No presente, cerca de 40% do comércio global de produtos altamente concentrados — ou seja, aqueles cuja produção está dominada por um pequeno número de países — ocorre entre economias geopoliticamente distantes e não alinhadas. Esta dependência torna, sem dúvida, as cadeias de abastecimento mais vulneráveis a tensões comerciais, sanções e disrupções inesperadas. Nesse sentido, o friendshoring surge como uma estratégia útil para combater a exposição a mercados politicamente instáveis. Por exemplo, empresas do (cada vez mais relevante) setor dos semicondutores estão a investir em fábricas na Europa e nos EUA, procurando reduzir a dependência relativamente a Taiwan e à China. 4. Redução do impacto de guerras comerciais e sanções A rivalidade entre EUA e China, assim como a guerra na Ucrânia, são exemplos do impacto que as tensões geopolíticas podem ter nas transações mundiais e na restrição do acesso a matérias-primas e tecnologias estratégicas. Aliás, segundo as previsões da McKinsey, num cenário de severa fragmentação global, o comércio entre blocos opostos pode reduzir-se até 70%, até 2035, o que aumentaria significativamente o risco de disrupções na cadeia de abastecimento. Para evitar esse cenário, os benefícios do friendshoring podem, inegavelmente, ser relevantes para assegurar um grau superior de estabilidade. O outro lado do friendshoring: que desafios deve equacionar neste âmbito? Apesar das múltiplas vantagens inerentes ao friendshoring, é fulcral analisar o reverso da medalha. As empresas ou países que adotam esta estratégia ficam, certamente, expostos a determinados desafios que podem impactar a competitividade e a eficiência das operações logísticas. Vejamos, pois, alguns exemplos: Custos de produção potencialmente mais elevados — possível incremento dos encargos relacionados com mão de obra e fabrico, o que pode espelhar-se na competitividade dos produtos; Redução da diversificação da cadeia de abastecimento — a dependência relativamente a um grupo mais restrito de países pode, decerto, limitar a flexibilidade e a resiliência em caso de crises ou disrupções inesperadas. Falamos, aqui, de desastres naturais ou uma súbita instabilidade política nos países aliados, por exemplo; Possível fragmentação do comércio global — o friendshoring pode conduzir a uma maior polarização do comércio internacional, limitando, assim, as oportunidades de cooperação entre diferentes blocos geopolíticos e dificultando o acesso a mercados emergentes; Barreiras à inovação e especialização — ao restringir o acesso a fornecedores de países não aliados, as empresas podem perder competências especializadas ou infraestruturas avançadas. Pois bem, à medida que as organizações estão a redirecionar as suas cadeias de abastecimento para mercados mais estáveis, é essencial assegurar um investimento sólido na eficiência e na blindagem das suas operações. Para isso, é indispensável contar com um parceiro logístico experiente e confiável. Na Rangel, temos ao seu dispor um conjunto alargado de soluções logísticas personalizadas para ajudar a sua empresa a diversificar fornecedores, a otimizar rotas de transporte e a garantir um fluxo logístico estável e resiliente. Contacte-nos! REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:World Economic Forum. “What’s the difference between ‘friendshoring’ and other global trade buzzwords?”. Acedido a 5 de fevereiro de 2025.Inbound Logistics. “Friendshoring: Definition, Benefits, and Challenges”. Acedido a 5 de fevereiro de 2025.CSIS. “The Limits of ‘Friend-Shoring’”. Acedido a 5 de fevereiro de 2025.Firstpost. “Explained: What is friendshoring and will it stop the disruption of supply chains during geopolitical crisis?”. Acedido a 5 de fevereiro de 2025. Etiquetas:comércio internacional economia
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